Haverá um novo alvorecer no Vaticano? |
A
renúncia do Papa Bento XVI, que tanto deu, e ainda está dando, o que falar é,
sem a menor sombra de dúvida, um sinal. Um forte e inegável sinal de que
estamos vivendo não apenas uma época de mudanças, mas sim uma mudança de época.
Para
os fiéis católicos mais conservadores - que ainda não descobriram que a Idade Média
acabou - o Papa é o legítimo representante de Deus na Terra. Só que, de uma
hora para outra, um ser que, desde o concílio Vaticano I de 1870, é definido
dogmaticamente como infalível em matéria de fé, declara sua falibilidade
humana, tristemente humana. Como qualquer um de nós.
Ainda
que - conforme já publiquei recentemente - a saída antecipada do Papa seja o
resultado de um punhado de fatores, a gente não deixa de sentir esse evento
como um sintoma fortíssimo de que a Igreja de Jesus Cristo, que tem sede em
Roma, jamais será a mesma. Foi mudada irreversivelmente e para sempre. Tomara
que seja para melhor.
Ao
renunciar ser o pastor do catolicismo, da igreja romana, a referência máxima de
fé para mais de um bilhão de fiéis no mundo inteiro, Ratzinger deu o primeiro
passo, ou talvez o último para o fim de uma instituição carcomida pelo
conservadorismo, a corrupção, os desmandos e a intolerância.
Mas
outros casos acontecidos neste últimos dias tem demonstrado que o mofo
burocrático que sustentava as estruturas ultrapassadas da Igreja Romana parece
estar definhando.
Um
destes é o do cardeal Roger Mahony, de Los Angeles, na Califórnia, responsável
pelo encobrimento de 129 casos de abusos de menores por parte de religiosos
daquela cidade. Um grupo enorme de católicos americanos quer que Mahony seja
proibido de participar do conclave que elegerá o novo papa no mês que vem.
Outro
caso interessante é o do único cardeal eleitor do Reino Unido, Keith O'Brian que foi denunciado por comportamento inadequado
com menores. O prelado renunciou ao cargo e a terra da rainha ficou sem
representante no conclave para escolher o sucessor de Bento. O cardeal escocês
era um possível candidato ao trono papal.
Essa
atitude dos católicos americanos unidos, dando cartão vermelho ao cardeal
relapso, irresponsável e omisso, mostra que os fiéis não são ovelhas. E as
denúncias contra Keith O´Brian revelam que também o pastor pode muito bem ser o
próprio lobo.
Assim
os fiéis católicos, e os demais cristãos estão cada vez mais percebendo a “Verdade
que liberta”, assim como seus próprios poderes. Estão conscientes das suas imensas
forças interiores. E, o melhor, descobrem que cada um e cada uma pode ter
comunicação direta com a Fonte, sem intermediários, conforme ensinavam Khrisna,
Lao-Tsé, Jeremias, Buda, Jesus e Maomé.
Isto
tem deixando cada vez mais escassos os rebanhos e aumentando o contingente de
grupos voluntários e livres de buscadores da Verdade. A transformação verdadeira
está aí. O resultado do conclave que indicará o sucessor ao trono de Pedro será
mais uma troca irrelevante, enraizada no poder temporal, transitório e
suscetível.
Mas
a grande mudança que realmente está acontecendo é na cabeça e no coração das
pessoas que se libertam - com a força da espiritualidade sem dogmas - do poder
da superstição, das crenças obsoletas e da mente obscura.
Seja
bem vindo esse novo mundo. Mesmo que a sua chegada despedace, impiedosamente,
nossos ídolos e arranque, dolorosamente, nossos preconceitos.
Goiânia, fevereiro/2013