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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tem algo de podre no país do futebol


Nunca como agora a famosa frase “o preço da liberdade é a eterna vigilância” se tornou tão atual.  Axioma atribuído no Brasil ao brigadeiro Eduardo Gomes, nos Estados Unidos a John Stuart Mill e a Thomas Jefferson, tem, segundo alguns autores sua origem no mundo Greco-romano da Antiguidade. O certo é que a História já confirmou que, apesar de batida, essa citação nunca perde seu valor.
Contudo, embalados pelos índices de aceitação e simpatia nunca alcançado por um governo no Brasil, Dilma Roussef e seus verdadeiros aliados estão se esquecendo, dessa máxima. Enquanto festejam descontraidamente seu sucesso, a canalha inimiga conspira, age e aos poucos vai minando a base do projeto democrático tão duramente implementado nas duas últimas décadas.
Os ruralistas, os chamados “evangélicos”, os moralistas e todas as demais raias miúdas que compõem as forças conservadoras brasileiras, se aproveitam do despreparo político das massas e da euforia que embebeda os líderes governistas e ganham força. Capturam justamente os maiores beneficiados por um governo de justiça social, a chamada “nova classe média” para barrar avanços e fazer retroceder conquistas.
Isto porque, tiradas da miséria financeira pelas “bolsas” distribuídas a mão cheia e pelo aumento substancial, embora ainda injusto, do salário mínimo, essas pessoas ainda não estão a salvas do analfabetismo funcional e do ignorante senso de oportunismo imediatista de quem nunca teve muito para comer e viver.
Casos concretos podem ser apontados. O uso maquiavélico que a “grande mídia” fez do julgamento do chamado “mensalão; a votação da lei do Código Florestal que fez do ideal ambientalista do governo uma vitória dos devastadores e, mais recentemente, a imposição de um famigerado “pastor“ racista, misógino e homofóbico na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Isto sem falar no panorama que se desenha com vistas às eleições de 2014. O PSB, que se valeu do governo Lula para alcançar vitória em vários estados da federação começa a se revelar sua verdadeira índole. Mostra que de “socialista” não tem nada e de partido, menos ainda. Bem parecido com o MDB da época da ditadura militar, a sigla de propriedade do governador pernambucano de belos olhos, verdadeiro balaio de gatos de oportunistas, “ameaça” arregimentar outros pastores desarvorados para sua batalha antidemocracia.
“Deitado eternamente em berço esplêndido”, o Brasil não pode continuar dormindo. E quem tem a obrigação de acordá-lo são todos os que tem voz, e espaço para gritar. Qualquer indecisão pode gerar um passo em falso, e as raposas e abutres da política estão aí para aproveitar. O baile da Ilha Fiscal, o comício da Central do Brasil e outros eventos ingenuamente descuidados estão nos livros e na memória recente do país para mostrar que “a quem cochila, o cachimbo cai”, como dizia, sabiamente, minha vovó.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Guatemala. “Criança de sete anos morreu ao ser violada por vários soldados”

Manifestantes fazem vigília pacífica em frente ao Tribunal que julga o ex ditador: Antes tarde do que nunca!

Mesmo em uma sociedade endurecida pela violência como a guatemalteca, os testemunhos das mulheres da etnia Ixil, vítimas de violações em massa durante as incursões militares nas comunidades camponesas, comoveram, nesta terça, 2 de abril, todo o país, em uma nova sessão horripilante do julgamento do genocídio contra o ex ditador Efraín Ríos Montt.
Por respeito à dignidade das vítimas, a juíza Jazmín Barrios, que preside o julgamento pelas atrocidades cometidas entre 1982 e 1983, pediu à imprensa para não revelar os nomes destas mulheres, que recordaram diante da justiça o horror vivido há três décadas.
A primeira mulher a declarar narrou que tudo começou quando quatro soldados bateram à porta da sua humilde casinha. Entraram à força quando entreabriu a porta. “A primeira coisa que perguntaram foi se dávamos comida aos guerrilheiros. Respondi que sequer os conhecia”, disse a testemunha. “Na casa estava a minha filha, de 17 anos, e dois de seus irmãos menores. Os soldados a desnudaram, abriram à força suas pernas e começaram a violentá-la, na presença das crianças, que choravam de medo”.
Com a voz estremecida, esta mulher relatou que, quando quis ajudar sua filha, um dos soldados lhe deu uma coronhada na boca do estômago e outra na cara. A força do golpe, acrescentou, a fez cair. Perdeu um olho. Acrescentou que sua filha foi violentada pelos quatro na cama do casal. A perguntas da defesa, acrescentou que não conseguiria reconhecer os algozes, mas que tem a certeza de que eram soldados. Em meio à agressão, as crianças puderam fugir e procurar refúgio nas montanhas.
Outra testemunha disse que um grupo de soldados chegou até sua casa em torno das 21h. Levaram-na a um lugar descampado, onde a violentaram e a deixaram abandonada, nua. Acrescentou que nessa época tinha um bebê de 30 dias, que morreu calcinado quando os militares atearam fogo na sua casa. “Nem sequer pude enterrá-lo, porque a casa estava em cinzas e eu estava com muito medo”, acrescentou.
Estes fatos se repetiram contra a população camponesa em todas as zonas nas quais o Exército suspeitava da existência de acampamentos guerrilheiros e aplicava a doutrina da terra arrasada. As violações, segundo o relatório 
Recuperação da Memória Histórica (Remhi), da Conferência Episcopal Guatemalteca, “incluem a morte. Foram utilizadas como instrumento de tortura a escravidão sexual, com a violação reiterada da vítima”.
As estatísticas assinalam que os casos de violência sexual contra mulheres se deram em um de cada seis casos nos massacres perpetrados pelos soldados ou pelos paramilitares Patrulhas de Autodefesa Civil (PAC), voluntários utilizados como espiões e delatores de seus vizinhos.
Embora existam denúncias documentadas de 149 vítimas, acredita-se que houve bem mais, dados fatores como os sentimentos de culpa e de vergonha que acompanham estes crimes. Uma das mulheres que testemunharam pediu à juíza Jasmán Barrios que sua identidade não fosse revelada, porque nem sua família nem seu atual esposo sabiam que havia sido violentada.
Os testemunhos, muitos deles já recolhidos no relatório da Comissão de Esclarecimento Histórico, patrocinada pela ONU, ou no Remhi do bispo Juan Gerardi, adquirem uma nova dimensão quando cobram vida em mulheres que agora estão entre os 50 e os 60 anos, mas que naquela época eram apenas adolescentes.
“Se tens marido, então entre cinco e dez soldados te violentam. Se és solteira, então são 15 ou 20”, disse uma. “Meu tio ia por um caminho com sua filha e uma neta quando se depararam com uma patrulha militar. Conseguiram pegar as mulheres e uma menina, de sete anos morreu, porque foram muitos os soldados que ‘passaram’ sobre ela”.
Os requintes de crueldade deixam, literalmente, os cabelos em pé. “Alguns soldados estavam com sífilis ou gonorreia. A ordem foi que estes ficariam por último, quando os saudáveis já haviam violentado a vítima”. A isto é preciso acrescentar as gravidezes não desejadas. Todos os testemunhos concordam em assinalar os autores como membros do Exército ou das PAC.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Novas (esperançosas) surpresas do Papa Francisco


Parece que o novo Papa não vai mudar apenas a cadeira onde se senta. Se depender das suas idéias quando era apenas cardeal, aí vem mais novidades. Veja algumas das “surpresas”, pequenas e grandes, reveladas pelo Cardeal Jorge Mario Bergoglio, atual Papa Francisco, ou bispo de Roma, conforme prefere ser chamado. Elas estão no livro-entrevista de Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, com o título El Jesuíta, publicado na Argentina, e agora à venda também em outros países, entre eles a Itália.
Numa passagem do livro, Bergoglio critica as pregações dos conservadores:
Suas homilias (explicações do Evangelho na missa) que deveriam ser querigmáticas (que se referem às coisas realmente importantes da fé cristã), acabam sendo moralizantes. E dentro da moral – embora não tanto nas homilias como em outras ocasiões – prefere-se falar da moral sexual, de tudo o que tem algum vínculo com o sexo. Dizer que isso pode, aquilo não pode. Que isso é pecado, aquilo não. E então relegamos o tesouro de Jesus vivo, o tesouro do Espírito Santo em nossos corações, o tesouro de um projeto de vida cristã que tem muitas outras implicações para além das questões sexuais. Deixamos de lado uma catequese riquíssima, com os mistérios da fé, do Credo e acabamos nos centrando em se fazemos ou não uma marcha contra um projeto de lei que permite o uso da camisinha. 

Em outro momento, confessa: “Creio, sinceramente, que a opção básica da Igreja, na atualidade, não é diminuir ou tirar prescrições ou tornar mais fácil isto ou aquilo, mas sair às ruas para encontrar as pessoas, conhecer as pessoas por seu nome. Mas não só porque essa é sua missão, sair para anunciar o Evangelho, mas porque não fazê-lo produz prejuízo. [...] É verdade que, se alguém sai às ruas, pode lhe acontecer o que acontece a qualquer cidadão comum: acidentar-se. Mas prefiro mil vezes ter uma Igreja acidentada a uma Igreja doente”.
Será que a Cúria Romana vai permitir que Bergóglio viva e atue segundo suas convicções ou vai fazer dele um fantoche do obscurantismo autoritário e medieval que domina o Vaticano? 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Colégio jesuíta permite que casal gay participe de baile de formatura

Colégio jesuíta McQuaid, de Brighton Nova York, nos EUA.

Dois adolescentes gays que frequentam o colégio jesuíta McQuaid estão sendo acolhidos para participar do baile de formatura como um casal.

O McQuaid Jesuit High School é um colégio católico masculino de Brighton, Nova York. Segundo o site Rochesterhomepage.net, um abaixo-assinado de apoio aos estudantes foi rapidamente criado na internet depois que os meninos pediram permissão para participar do baile de formatura como um casal.
Pouco tempo depois, o diretor do colégio, padre Edward Salmon, enviou uma nota detalhada aos pais no dia 27 de março, dizendo: "Se os nossos dois irmãos que pediram para participar do Baile de Formatura desejarem fazê-lo, eles serão bem-vindos".
Eis a nota.

Queridas Irmãs e Irmãos da nossa Comunidade Jesuíta McQuaid:

O nosso novo Santo Padre, o Papa Francisco, na homilia de sua missa inaugural, proferiu palavras encorajadoras e convidativas: "Também hoje, perante tantos sinais de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos, nós mesmos, esperança. Cuidar da criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um raio de luz em meio a tantas nuvens".
Escuridão e nuvens pesadas se juntaram aqui no McQuaid, recentemente, por causa de desinformação, medo, incompreensão e até mesmo raiva. Essa desinformação, medo, incompreensão e até mesmo raiva surgiram depois que dois dos nossos irmãos perguntaram se poderiam participar do Baile de Formatura juntos. Na escuridão da desinformação, do medo, da incompreensão e da raiva, juntamente com o Papa Francisco, eu convido e encorajo a todos e a cada um de nós da família McQuaid a sermos homens e mulheres que tragam esperança uns para os outros. Eu convido e encorajo a todos e a cada um de nós da família McQuaid a sermos homens e mulheres que olham para o outro com ternura e amor. Eu convido e encorajo a todos e a cada um de nós da família McQuaid a abrirmos um horizonte de esperança, a deixarmos um raio de luz romper as nuvens pesadas.
Eu mesmo gostaria de deixar um raio de luz romper as nuvens corrigindo algumas desinformações. Simplesmente não é verdade, como foi noticiado e como muitos parecem ter assumido, que uma decisão tenha sido tomada pelas autoridades do McQuaid de não permitir que os jovens em questão participem do Baile de Formatura. Nenhuma decisão foi tomada.
Eu gostaria de deixar um raio de luz entrar na escuridão do medo. Eu, juntamente com a Conferência Episcopal dos Estados Unidos, em sua mensagem pastoral Always Our Children, peço que "todos os cristãos e cidadãos de boa vontade enfrentem seus próprios medos acerca da homossexualidade e contenham o humor e a discriminação que ofende as pessoas homossexuais. Entendemos que ter uma orientação homossexual traz consigo suficiente ansiedade, dor e preocupações relacionadas com a autoaceitação sem que a sociedade traga um tratamento preconceituoso adicional".
Eu gostaria de deixar um raio de luz entrar em uma possível incompreensão do ensino da Igreja. Nessa mesma mensagem, Always Our Children, os bispos são claros – "Nada na Bíblia ou no ensino católico pode ser usado para justificar atitudes e comportamentos preconceituosos ou discriminatórios". Os bispos continuam: "Também é importante reconhecer que nem uma orientação homossexual, nem uma orientação heterossexual levam inevitavelmente à atividade sexual. A personalidade total de cada um não é redutível à orientação ou comportamento sexuais". Nessa mesma mensagem, os bispos se referem a uma Carta de 1986 da Congregação para a Doutrina da Fé, que enfatiza que "o respeito pela dignidade dada por Deus a todas as pessoas significa o reconhecimento dos direitos e responsabilidades humanos. Os ensinamentos da Igreja deixam claro que os direitos humanos fundamentais das pessoas homossexuais devem ser defendidos, e que todos nós devemos nos esforçar para eliminar quaisquer formas de injustiça, opressão ou violência contra elas".
Os bispos continuam: "Não é suficiente apenas evitar a discriminação injusta. As pessoas homossexuais 'devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza' (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.358). Elas, assim como é verdade para cada ser humano, precisam ser alimentadas em muitos níveis diferentes simultaneamente. Isso inclui amizade, [fraternidade] que é uma forma de amar e é essencial para o desenvolvimento humano saudável. É uma das experiências humanas mais ricas possíveis. A amizade pode e deve prosperar fora do envolvimento sexual".
Por último, eu gostaria de deixar um raio de luz entrar na escuridão que a raiva pode trazer. Com base na desinformação que está circulando e em uma certa incompreensão sobre o ensino da Igreja, algumas pessoas começaram a postar comentários preconceituosos e humilhantes nas mídias sociais. Falar, escrever ou agir com raiva geralmente não é útil. Outros, no entanto, profundamente preocupados com a dignidade e o respeito por todas as pessoas, escreveram e-mails reflexivos e encorajadores às autoridades do McQuaid.
Em conclusão, e na esperança de que eu e todos nós do McQuaid deixemos um raio de luz romper a escuridão e as nuvens pesadas que nos circundam, tomei a decisão de que, se os nossos dois irmãos que pediram para participar do Baile de Formatura juntos desejarem fazê-lo, eles serão bem-vindos.
Com essa decisão, eu não estou contradizendo os ensinamentos da Igreja Católica Romana com relação à sexualidade humana; não estou encorajando nem consentindo com a atividade homossexual, assim como não estou encorajando ou consentindo com a atividade heterossexual em um baile. Eu não estou contrariando a oposição da Igreja à redefinição do matrimônio. Com essa decisão, eu convido e encorajo a todos nós, como o Papa Francisco faz, a exercer o cuidado, a proteção, a bondade que demanda uma certa ternura "que não é a virtude dos fracos, antes, pelo contrário, denota fortaleza de ânimo e capacidade de atenção, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, capacidade de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!"
Sinceramente no Senhor,

Edward F. Salmon, S.J.

Diretor