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A queda dos gigantes esfacela os mais frágeis |
Não ha caminhos para quem não sabe para onde quer ir. Não há um rumo para a Humanidade enquanto não se estabelecer os verdadeiros valores e objetivos da sua caminhada. A derrocada
dos gigantes econômico-militares do Ocidente, leia-se Estados Unidos e União Europeia, será
muito mais uma ex-plosão do que uma im-plosão. Ou seja, os solavancos finais
dessas potências vão causar tantos danos externos quanto os internos. Não cairão,
ou melhor, não estão agonizando sem atingir todo o planeta com os estilhaços de
suas mega estruturas.
Esta
previsão terrivelmente certeira à qual
tem se lançado a maioria dos estudiosos da política, da sociologia e da história
recentes, pode ser confirmada a pelas aparentemente injustificadas intromissões
dos E.U.A e da U.E. nos conflitos étnicos, religiosos e tribais da Líbia, Síria, e do Mali.
E o pior, na realidade, apesar da tão propalada
“crise do capitalismo”, não se pensa nem se apresenta, de forma realista e
lógica, nenhuma alternativa ao “império do capital” nem uma tendência “anti imperialista”
num horizonte próximo.
Enquanto o capitalismo ocidental está em
crise, a curva ascendente do neocapitalismo asiático da China, Índia e seus
satélites provocam novas crises produzidas pela selvagem exploração das classes
trabalhadoras e pelas criminosas e anacrônicas relações de castas, etnias e quase
silenciosas guerras de periferia.
Ainda, as principais forças anti imperialistas
da América Central e do Sul, África e Ásia não são os movimentos progressistas,
seculares e democratas ou socialistas. Os movimentos que enfrentam o
imperialismo são religiosos, étnicos, misóginos, socialmente conservadores e
muitas vezes separatistas.
Mas não é apenas no Terceiro Mundo que a
confusão está formada. Nos E.U.A, uma linha muito tênue separa republicanos e
democratas. Aliás, em terras do Tio San, já se foi o tempo em que republicano
era sinônimo de conservador, e que democrata significava progressista.
Em quase todo o mundo as ideologias de esquerda se diluem. A
socialdemocracia no Ocidente ziguezagueia entre suas propostas ideais e
uma ação política hiper-realista que não é diferente do jeito liberal de governar.
Fisiológica, fraca, moralista, apegada às suas conquistas passadas,
incapaz de apresentar uma alternativa que mobilize a sociedade, a
socialdemocracia está em crise. As esquerdas atualmente, quer queiram ou não, são menos que uma sombra
do que já foram em décadas passadas.
Nos últimos
20 anos, a socialdemocracia vem perdendo suas tradicionais bases operárias e
populares e ganhando o coração dos novos burgueses urbanos. Essa transformação de
seu eleitorado transformou a esquerda e a relação de força dentro do jogo
eleitoral em toda parte: os operários e as classes populares votam com a direita, os “novos
modernos” na socialdemocracia.
Nesse
caldeirão de identidades frágeis e transparentes, o que acaba tomando conta do
imaginário popular é o niilismo e o recurso ao subjetivo. Novas religiões,
ressurgimento das antigas e um indiferentismo vivencial é o jeito primeiro-
mundista de viver a pós-modernidade. E o resto do mundo, como sempre, segue essa
procissão de descrentes e iludidos rumo aos tempos que virão. Até quando?