Manifestantes fazem vigília pacífica em frente ao Tribunal que julga o ex ditador: Antes tarde do que nunca! |
Mesmo em uma sociedade endurecida
pela violência como a guatemalteca, os testemunhos das mulheres da
etnia Ixil, vítimas de
violações em massa durante as incursões militares nas comunidades camponesas,
comoveram, nesta terça, 2 de abril, todo o país, em uma nova sessão
horripilante do julgamento do genocídio contra o ex ditador Efraín Ríos Montt.
Por respeito à dignidade das
vítimas, a juíza Jazmín Barrios, que preside o julgamento pelas atrocidades cometidas entre 1982 e 1983, pediu à
imprensa para não revelar os nomes destas mulheres, que recordaram diante da
justiça o horror vivido há três décadas.
A primeira mulher a declarar
narrou que tudo começou quando quatro soldados bateram à porta da sua humilde
casinha. Entraram à força quando entreabriu a porta. “A primeira coisa que
perguntaram foi se dávamos comida aos guerrilheiros. Respondi que sequer os
conhecia”, disse a testemunha. “Na casa estava a minha filha, de 17 anos, e
dois de seus irmãos menores. Os soldados a desnudaram, abriram à força suas
pernas e começaram a violentá-la, na presença das crianças, que choravam de
medo”.
Com a voz estremecida, esta mulher
relatou que, quando quis ajudar sua filha, um dos soldados lhe deu uma
coronhada na boca do estômago e outra na cara. A força do golpe, acrescentou, a
fez cair. Perdeu um olho. Acrescentou que sua filha foi violentada pelos quatro
na cama do casal. A perguntas da defesa, acrescentou que não conseguiria
reconhecer os algozes, mas que tem a certeza de que eram soldados. Em meio à
agressão, as crianças puderam fugir e procurar refúgio nas montanhas.
Outra testemunha disse que um
grupo de soldados chegou até sua casa em torno das 21h. Levaram-na a um lugar
descampado, onde a violentaram e a deixaram abandonada, nua. Acrescentou que
nessa época tinha um bebê de 30 dias, que morreu calcinado quando os militares
atearam fogo na sua casa. “Nem sequer pude enterrá-lo, porque a casa estava em
cinzas e eu estava com muito medo”, acrescentou.
Estes fatos se repetiram contra a população camponesa em todas as zonas nas quais o Exército suspeitava da existência de acampamentos guerrilheiros e aplicava a doutrina da terra arrasada. As violações, segundo o relatório Recuperação da Memória Histórica (Remhi), da Conferência Episcopal Guatemalteca, “incluem a morte. Foram utilizadas como instrumento de tortura a escravidão sexual, com a violação reiterada da vítima”.
Estes fatos se repetiram contra a população camponesa em todas as zonas nas quais o Exército suspeitava da existência de acampamentos guerrilheiros e aplicava a doutrina da terra arrasada. As violações, segundo o relatório Recuperação da Memória Histórica (Remhi), da Conferência Episcopal Guatemalteca, “incluem a morte. Foram utilizadas como instrumento de tortura a escravidão sexual, com a violação reiterada da vítima”.
As estatísticas assinalam que os
casos de violência sexual contra mulheres se deram em um de cada seis casos nos
massacres perpetrados pelos soldados ou pelos paramilitares Patrulhas de
Autodefesa Civil (PAC),
voluntários utilizados como espiões e delatores de seus vizinhos.
Embora existam denúncias
documentadas de 149 vítimas, acredita-se que houve bem mais, dados fatores como
os sentimentos de culpa e de vergonha que acompanham estes crimes. Uma das
mulheres que testemunharam pediu à juíza Jasmán Barrios que
sua identidade não fosse revelada, porque nem sua família nem seu atual esposo
sabiam que havia sido violentada.
Os testemunhos, muitos deles já
recolhidos no relatório da Comissão de
Esclarecimento Histórico, patrocinada
pela ONU, ou no Remhi do bispo Juan Gerardi, adquirem uma nova
dimensão quando cobram vida em mulheres que agora estão entre os 50 e os 60
anos, mas que naquela época eram apenas adolescentes.
“Se tens marido, então entre cinco
e dez soldados te violentam. Se és solteira, então são 15 ou 20”, disse uma.
“Meu tio ia por um caminho com sua filha e uma neta quando se depararam com uma
patrulha militar. Conseguiram pegar as mulheres e uma menina, de sete anos
morreu, porque foram muitos os soldados que ‘passaram’ sobre ela”.
Os requintes de crueldade deixam, literalmente, os cabelos em pé. “Alguns soldados estavam com sífilis ou gonorreia. A ordem foi que estes ficariam por último, quando os saudáveis já haviam violentado a vítima”. A isto é preciso acrescentar as gravidezes não desejadas. Todos os testemunhos concordam em assinalar os autores como membros do Exército ou das PAC.
Os requintes de crueldade deixam, literalmente, os cabelos em pé. “Alguns soldados estavam com sífilis ou gonorreia. A ordem foi que estes ficariam por último, quando os saudáveis já haviam violentado a vítima”. A isto é preciso acrescentar as gravidezes não desejadas. Todos os testemunhos concordam em assinalar os autores como membros do Exército ou das PAC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, acrescente seu comentário que publicaremos desde que não contenha termos ofensivos ou contrários aos princípios da boa educação e inteligência.