O cardeal brasileiro João Braz Aviz (à esquerda) causou na segunda-feira um terremoto na última reunião do Colégio Cardinalício trocando farpas com o secretário de Estado, Tarcisio Bertone. Outro brasileiro, Odilo Scherer (à direita) defendeu Bertone, seu amigo. A "briga" revelou a divisão escancarada da Igreja e mostra que nem mesmo os cardeais de um mesmo país se entendeu ou, pelo menos tem o mesmo projeto para Igreja.
A reportagem é de Jamil Chade e
publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-03-2013.
O embate, cujo teor só veio à
tona nesta terça-feira pelo jornal italiano La Repubblica, pode influenciar diretamente no
resultado da eleição que vai escolher o sucessor de Bento XVI, pois a disputa entre d. Aviz e o número 2 do
Vaticano teria enfraquecido o favoritismo dos dois principais papáveis - d. Odilo e o cardeal italiano Angelo Scola -
e aberto caminho para um candidato alternativo, o húngaro Peter Erdo. Será eleito papa o cardeal que receber dois
terços dos votos.
Já se sabia que Bertone havia sido
pressionado durante a reunião de segunda-feira dos cardeais por causa dos
problemas de gestão na Cúria e, principalmente, no Banco do Vaticano. Mas os detalhes vazados nesta
terça-feira revelam que o número 2 do Vaticano não se intimidou. A certa
altura, Bertone tomou a palavra para acusar d. Aviz de estar repassando
o conteúdo das reuniões secretas à imprensa. Foi uma resposta à atuação de d. Aviz na semana passada,
quando foi ovacionado durante as primeiras reuniões pré-conclave por pedir uma
reforma na gestão da Igreja e maior transparência do Instituto para Obras Religiosas - o Banco do Vaticano.
Bertone, segundo fontes dentro do Vaticano, teria usado o vazamento supostamente promovido por d. Aviz para minar sua credibilidade diante dos outros cardeais. D. Aviz, porém, não deixou barato. Pediu a palavra e negou que tivesse vazado qualquer tipo de informação. Seu discurso recebeu fortes aplausos.
Bertone, segundo fontes dentro do Vaticano, teria usado o vazamento supostamente promovido por d. Aviz para minar sua credibilidade diante dos outros cardeais. D. Aviz, porém, não deixou barato. Pediu a palavra e negou que tivesse vazado qualquer tipo de informação. Seu discurso recebeu fortes aplausos.
Foi então d. Odilo quem pediu para
falar, fazendo uma ampla defesa do Banco do Vaticano e da própria Cúria. Para vaticanistas,
essa intervenção pode ter afetado suas chances nas eleições. Já outros alertam
que Scherer foi hábil e admitem que ele soube defender seu argumento.
Argumento
D. Odilo é
visto como um candidato da situação, o que passou a ser descrito como
"Partido Romano", defendendo posições mais tradicionais e rebatendo
duras críticas da falta de transparência da Cúria nos últimos dias. O
brasileiro já ocupava o conselho do Banco do Vaticano,
sob duros ataques, e teve seu mandato renovado por mais dois anos há menos de
um mês, numa indicação de que continua sendo um homem de confiança do grupo no
poder. Nos últimos meses, a Justiça italiana chegou a congelar contas do banco
e a União Europeia deixou claro que a instituição não seguia as regras internacionais
de transparência.
Mas, para o jornal Corriere de la Sera, a ação coordenada da Cúria
defendendo o Banco do Vaticano significaria o retorno da "sombra
dos corvos" - uma forma que os críticos de Bertone passaram a usar há
meses para atacar o grupo que teria minado o pontificado de Bento XVI e forçado
o alemão a renunciar para desmontar o grupo.
A disputa, segundo vaticanistas e
pessoas próximas à Cúria, teria sido levada nesta terça-feira diretamente ao
conclave, de certa forma determinando o padrão da votação. Nomes de cardeais
que estariam correndo por fora e que representariam um compromisso entre as
facções teriam ganhado força nesta terça-feira, na primeira eleição, por conta
do confronto aberto entre os anti e pró-Cúria.
Não por acaso, nomes fora da
disputa entre as duas alas provavelmente se saíram bem na primeira votação
desta terça-feira. O jornal italiano La Repubblica cita o cardeal húngaro Peter Erdo, uma espécie de terceira via.
Vazamento
Ao Estado, o cardeal português José Saraiva Martins deixou claro que d. Odilo Scherer ainda conta com chances de ser eleito. "Ele é um dos candidatos mais fortes", disse d. Martins, momentos antes do início do conclave. O cardeal português não vota, por ter mais de 80 anos. "Queremos um papa que esteja pronto para atender às exigências da Igreja e com um perfil de um homem capaz de levar sua mensagem às pessoas", disse, repetindo o que disse vários dos cardeais nas últimas semanas - e que poderia se encaixar em vários dos papáveis citados até agora.
Ao Estado, o cardeal português José Saraiva Martins deixou claro que d. Odilo Scherer ainda conta com chances de ser eleito. "Ele é um dos candidatos mais fortes", disse d. Martins, momentos antes do início do conclave. O cardeal português não vota, por ter mais de 80 anos. "Queremos um papa que esteja pronto para atender às exigências da Igreja e com um perfil de um homem capaz de levar sua mensagem às pessoas", disse, repetindo o que disse vários dos cardeais nas últimas semanas - e que poderia se encaixar em vários dos papáveis citados até agora.
Já o cardeal camaronês Christian Tumi insistiu
nesta terça-feira que a eleição deve ser rápida e o resultado poderia ser
conhecido ainda nesta quarta-feira. "Eu acho que já saberemos quem será o
papa ainda nesta quarta-feira. É essa minha impressão", disse. Tumi, por conta da idade, também já não vota.
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