Sede o Banco do Vaticano: sem janelas para o mundo |
O sigilo
inviolável é uma das características do Vaticano. O Instituto para as Obras de
Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano, então, está envolto em tenebrosos mistérios…
O professor
de história da Universidade de Cambridge, John Pollard, falou à Euronews
sobre o passado recente do Banco do Vaticano e dá alguns conselhos ao novo Papa
Francisco, sobre como pode ultrapassar as resistências internas do IOR.
Euronews: Pode-se dizer que o banco do Vaticano
esconde alguns segredos perigosos e que é, talvez, o último paraíso fiscal?
John Pollard : “Paraíso
fiscal creio que é um pouco exagerado. O Vaticano não é como as Ilhas Caiman,
Guernesei, Jersey ou mesmo o Luxemburgo. Mas, com certeza, tem segredos e
existem algumas evidências que sugerem que nem todas as suas atividades nos últimos
anos, são transparentes. Uma das questões levantadas pelo escândalo “Vatileaks” foi a questão do controle
sobre o banco. Demonstrou existir uma grave divisão entre os membros da Cúria,
que é o governo central da Igreja Católica no Vaticano, sobre como controlar o
banco e em relação ao grau de transparência que o Banco do Vaticano deve adotar
nas suas transações.”
En: O IOR foi envolvido em muitas controvérsias
financeiras e políticas. A direção foi implicada na falência do Banco
Ambrosiano mas nunca foi levada perante a justiça.
Pollard: “Sim. Os
anos 80 não foram um bom momento para o Banco do Vaticano. Eles envolveram-se
numa série de dificuldades muito sérias. Na época o banco, era liderado pelo
arcebispo Paul Marcinkus, um americano de Nova Iorque, e estava muito envolvido
com um banco ‘católico’. Creio ser esse o termo certo. Um banco com sede em
Milão, no norte de Itália, o Banco Ambrosiano e, eventualmente, foram obrigados
a pagar 250 milhões de dólares. Eles disseram que fizeram isso voluntariamente porque
tinham um sentido de responsabilidade moral para com esse colapso bancário mas,
claro que todos sabemos que o diretor do Banco Ambrosiano se suicidou, ou foi
assassinado, debaixo de uma ponte em Londres. Agora temos os mesmos problemas
mas não à mesma escala. Ettore Gotti Tedeschi foi demitido pelo Secretário de
Estado por má conduta profissional. Ele foi acusado, pelas autoridades
bancárias italianas, de lavagem de dinheiro. Por isso é muito sério.”
En: Que tipo de
lavagem de dinheiro?
Pollard: “Quanto à
lavagem de dinheiro, não é completamente claro saber quem foi o mandante, ao
contrário da última vez. Na década de 80, suspeitou-se que seria ao serviço da
máfia, agora o montante é pequeno, são cerca de 23 milhões de dólares, pouca
coisa para os dias de hoje.”
En: O Papa
anterior tentou transformar o IOR mas acredita-se que tenha falhado…
Pollard :“Temos de
ser justos com Bento XVI. Nos últimos dois ou três anos de pontificado ele realizou
algumas mudanças muito importantes no banco. Em primeiro lugar, criou uma
autoridade de informação financeira, em outras palavras, uma autoridade no
interior do Vaticano, em linha com a União Europeia e com a legislação do
Conselho da Europa para supervisionar as atividades do banco. Demitiu Gotti e
nomeou o alemão Ernst von Freyberg. Por isso, nos próximos anos os
historiadores dirão que foi sob a alçada de Bento XVI que a situação do Banco do
Vaticano melhorou seriamente.”
En: Tem alguns
conselhos para o novo Papa?
Prof. John Pollard |
Pollard : “O meu
primeiro conselho seria para ele estar alerta pois o Vaticano é um lugar
perigoso. Para ser forte, para ser persistente pois está a enfrentar um sistema
de poder com 2.000 anos e que tem uma cultura profundamente enraizada de poder,
autoridade e falta de transparência. Ele tem de ser bastante forte para conseguir
ultrapassar isso.”
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