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quarta-feira, 20 de março de 2013

O tenebroso Banco do Vaticano

Sede o Banco do Vaticano: sem janelas para o mundo

O sigilo inviolável é uma das características do Vaticano. O Instituto para as Obras de Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano, então, está envolto em tenebrosos  mistérios…
O professor de história da Universidade de Cambridge, John Pollard, falou à Euronews sobre o passado recente do Banco do Vaticano e dá alguns conselhos ao novo Papa Francisco, sobre como pode ultrapassar as resistências internas do IOR.

Euronews: Pode-se dizer que o banco do Vaticano esconde alguns segredos perigosos e que é, talvez, o último paraíso fiscal?
John Pollard : “Paraíso fiscal creio que é um pouco exagerado. O Vaticano não é como as Ilhas Caiman, Guernesei, Jersey ou mesmo o Luxemburgo. Mas, com certeza, tem segredos e existem algumas evidências que sugerem que nem todas as suas atividades nos últimos anos, são transparentes. Uma das questões levantadas pelo escândalo “Vatileaks” foi a questão do controle sobre o banco. Demonstrou existir uma grave divisão entre os membros da Cúria, que é o governo central da Igreja Católica no Vaticano, sobre como controlar o banco e em relação ao grau de transparência que o Banco do Vaticano deve adotar nas suas transações.”

En: IOR foi envolvido em muitas controvérsias financeiras e políticas. A direção foi implicada na falência do Banco Ambrosiano mas nunca foi levada perante a justiça.
Pollard: “Sim. Os anos 80 não foram um bom momento para o Banco do Vaticano. Eles envolveram-se numa série de dificuldades muito sérias. Na época o banco, era liderado pelo arcebispo Paul Marcinkus, um americano de Nova Iorque, e estava muito envolvido com um banco ‘católico’. Creio ser esse o termo certo. Um banco com sede em Milão, no norte de Itália, o Banco Ambrosiano e, eventualmente, foram obrigados a pagar 250 milhões de dólares. Eles disseram que fizeram isso voluntariamente porque tinham um sentido de responsabilidade moral para com esse colapso bancário mas, claro que todos sabemos que o diretor do Banco Ambrosiano se suicidou, ou foi assassinado, debaixo de uma ponte em Londres. Agora temos os mesmos problemas mas não à mesma escala. Ettore Gotti Tedeschi foi demitido pelo Secretário de Estado por má conduta profissional. Ele foi acusado, pelas autoridades bancárias italianas, de lavagem de dinheiro. Por isso é muito sério.”

En: Que tipo de lavagem de dinheiro?
Pollard: “Quanto à lavagem de dinheiro, não é completamente claro saber quem foi o mandante, ao contrário da última vez. Na década de 80, suspeitou-se que seria ao serviço da máfia, agora o montante é pequeno, são cerca de 23 milhões de dólares, pouca coisa para os dias de hoje.”

En: O Papa anterior tentou transformar o IOR mas acredita-se que tenha falhado…
Pollard :“Temos de ser justos com Bento XVI. Nos últimos dois ou três anos de pontificado ele realizou algumas mudanças muito importantes no banco. Em primeiro lugar, criou uma autoridade de informação financeira, em outras palavras, uma autoridade no interior do Vaticano, em linha com a União Europeia e com a legislação do Conselho da Europa para supervisionar as atividades do banco. Demitiu Gotti e nomeou o alemão Ernst von Freyberg. Por isso, nos próximos anos os historiadores dirão que foi sob a alçada de Bento XVI que a situação do Banco do Vaticano melhorou seriamente.”

En: Tem alguns conselhos para o novo Papa?

Prof. John Pollard

Pollard : “O meu primeiro conselho seria para ele estar alerta pois o Vaticano é um lugar perigoso. Para ser forte, para ser persistente pois está a enfrentar um sistema de poder com 2.000 anos e que tem uma cultura profundamente enraizada de poder, autoridade e falta de transparência. Ele tem de ser bastante forte para conseguir ultrapassar isso.”

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