Dilma e o papa em Roma-Foto:Correio Brasiliense |
Dilma Rousseff pediu ontem ao papa Francisco que
compreenda as "opções diferenciadas das pessoas" e alertou que apenas
cuidar dos pobres não é suficiente.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-03-2013.
Dilma desembarcou em Roma
com uma ampla delegação, justamente para demonstrar a importância da Igreja
para o País. "É uma postura importante, um papa preocupado com a questão
dos pobres no mundo", disse a presidente, ao sair de uma visita a um museu
em Roma, referindo-se ao discurso de Francisco de combate à
pobreza. "Ele tem um papel especial", acrescentou, apontando que
esses foram alguns dos princípios básicos que inspiraram o cristianismo.
Mas alertou:
"É claro que o mundo pede hoje, além disso, que as opções diferenciadas
das pessoas sejam compreendidas". Cuidadosa para não ferir nenhum grupo de
eleitores e apoio - nem evangélicos, nem gays, nem católicos, nem defensores do
aborto -, Dilma não explicou sua
declaração. Mas ela foi interpretada como uma alusão a temas polêmicos para a
Igreja, como a expansão de igrejas evangélicas, o aumento do secularismo na
sociedade, homossexualismo, aborto e até o uso de preservativos.
A relação entre o
governo de Dilma Rousseff e
a Igreja tem sido marcada por atritos. Semanas antes de sua eleição, em 2010, a
campanha de Dilma foi surpreendida por
uma declaração do papa Bento XVI aos bispos do
Maranhão contra alguns dos pontos defendidos pela então candidata. Outro ponto
que tem irritado o governo é a decisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de fazer
declarações sobre temas como o Código Florestal, leis no Congresso e pontos
como o homossexualismo, aborto e outros temas. Nos bastidores, cardeais têm se
queixado da posição do governo em relação à Igreja.
Dilma, porém, admite que o argentino não deve ter posições
revolucionárias em relação a temas como casamento entre pessoas do mesmo sexo
ou aborto. "Não me parece que seja um tipo de papa que vai defender esse
tipo de posição", disse.
Hoje, ela estará na
cerimônia de entronização do papa Francisco, ao lado de 150 autoridades de todo o
mundo. A previsão é de que a presidente faça parte da fila de cumprimentos ao
pontífice após a missa e os dois troquem algumas palavras. Francisco deve convidar Dilma para
a Jornada Mundial da Juventude, organizado pela Igreja, que
ocorrerá no Rio de Janeiro, em julho. Dilma ainda não confirmou sua
participação.
Outro ponto que não
deixa de irritar Dilma é a possibilidade de
que o brasileiro Odilo Scherer fosse
considerado como um dos favoritos no conclave. Questionada ontem sobre o que
ela achava de um papa brasileiro, Dilma não disfarçou sua
irritação. Depois de um breve silêncio, apenas respondeu: "Acho essa
pergunta um pouco estranha", disse. "Ele (o papa Francisco) é
latino-americano", insistia. "Acho que é uma afirmação da
região."
No governo, a
eventual eleição de Scherer era vista com desconfiança e até certa preocupação.
Além de posições contrárias a algumas das políticas do governo, Scherer seria
alguém que acabaria sendo ouvido para todos os temas domésticos e acabaria
influenciando a agenda interna.
Dilma, apesar de estar em Roma, fez questão de declarar que o
País não é apenas católico, já de olho no fato de que parte de seu governo tem
na base os movimentos evangélicos. A presidente também comentou o comportamento
da Igreja durante a ditadura na América Latina, um ponto delicado para Francisco.
"Acho que a Igreja brasileira foi extremamente combativa contra a ditadura
em geral", disse, afirmando que se lembrava em especial da ação dos
dominicanos.
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